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COMPLEXO DO ALEMÃO

    O Complexo do Alemão, popularmente chamado de Morro do Alemão ou simplesmente Alemão é um bairro que abriga um dos maiores conjuntos de favelas da Zona da Leopoldina, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. Durante muitas décadas, foi considerado uma das áreas mais violentas da cidade, porém, desde 2011, o governo do estado vem atuando no bairro através da unidades de polícia pacificadora, o que tem trazido resultados positivos quanto à diminuição dos índices de violência no bairro. Segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, seu índice de desenvolvimento humano era de 0,711, o 126º e último colocado da cidade do Rio de Janeiro.

    Sua principal comunidade é o Morro do Alemão, embora haja dezenas de favelas pertencentes ao morro, espalhadas por extensões territoriais enormes. É oficialmente um bairro, mas devido a sua enorme extensão, os limites da área do bairro e das favelas pertencentes aos morro se misturam com outros bairros da Zona Norte da capital, como Ramos, Higienópolis, Olaria, Penha, Inhaúma e Bonsucesso.

    O bairro foi erguido sobre a Serra da Misericórdia. Sua forma de formação é vertical, uma formação geológica de morros e nascentes, quase toda destruída pela construção do complexo. Restam poucas áreas verdes na região, apesar dos esforços de preservação empreendidos por organizações atualmente.

    Na década de 1920, o imigrante polonês Leonard Kaczmarkiewicz adquiriu terras na Serra da Misericórdia, que era, então, uma região rural da Zona da Leopoldina. O proprietário era referido pela população local como "o alemão" e, logo, a área ficou conhecida como "Morro do Alemão".

    A ocupação, no entanto, só começou em 9 de dezembro de 1951, quando Leonard dividiu o terreno para vendê-lo em lotes. Ainda nos anos 1920, se instalou, na região, o Curtume Carioca e, na sequência, muitas famílias de operários se instalaram nas imediações. A abertura da Avenida Brasil, em 1946, acabou por transformar a região no principal polo industrial da cidade. O comércio e a indústria cresceram e diversificaram-se, mas a ocupação desordenada dos morros adjacentes, que teve seu boom no primeiro governo de Leonel Brizola, acabou por dar lugar às favelas do Complexo do Alemão.

    Ainda há áreas de mata e pontos de nascentes de rios que são usados como fonte de água. Todavia, logo após a nascente, os rios já se tornam valões de esgoto, devido à falta de rede canalizada. Boa parte da serra foi destruída devido às pedreiras, muito comuns a partir da metade do século XX. Hoje em dia, tal empreendimento ainda é autorizado, mesmo a Serra da Misericórdia sendo considerada Área de Proteção Ambiental. Na interseção entre o Alemão e a Penha, a francesa Lafarge opera uma pedreira com autorização do INEA, por não atingir os lençóis freáticos da região.

A região sempre foi conhecida como uma das mais violentas da cidade. Atualmente, está sendo alvo de um dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento, em parceria entre os governos federal e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, em que estão previstas melhorias viárias, moradia e de infraestrutura em geral, de modo a livrar o bairro e seus arredores do estigma da favelização e da violência.

    Em meados dos anos 90, foi travada uma grande guerra no Morro do Alemão à época em que era dominado pelo traficante Orlando da Conceição, o Orlando Jogador. Este acabou sendo morto numa emboscada por um outro traficante, seu afilhado Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê. Nessa época o Complexo, o Comando Vermelho perdeu o controle da área durante alguns meses, para outra facção criminosa, o Terceiro Comando. Posteriormente, o Comando Vermelho recuperou o domínio sobre a maior parte do Complexo. Uma parte, entretanto, o Morro do Adeus, permaneceu nas mãos do Terceiro Comando. Mas, em maio de 2007, foi tomado pela organização criminosa Amigos dos Amigos e voltou à esfera do Comando Vermelho.

    O bairro é também conhecido pelos bailes funk na Chatuba e da Grota, além do chamado "Baile do Complexo Total", onde acontece tráfico de drogas e sexo explícito, inclusive com menores de idade misturados aos maiores. Foi justamente a realização de reportagens sobre este tipo de evento, resultou no assassinato do jornalista Tim Lopes em 2002, após ser capturado pelo grupo do traficante Elias Maluco. A execução brutal de Tim Lopes teria sido uma vingança por sua reportagem "Feirão das Drogas", exibida pela Rede Globo em agosto de 2001, na qual se mostrou, através de uma câmera oculta, a venda livre de drogas e a prostituição infantil nos bailes funks das favelas do bairro. A reportagem foi laureada com o Prêmio Esso de Jornalismo.

    No dia 4 de dezembro de 2008, o presidente Lula visitou o Complexo do Alemão, em evento realizado num antigo depósito de gás abandonado, próximo às comunidades da Nova Brasília e Grota. Lá, sob forte esquema de segurança comandado pela Força Nacional, e acompanhado de diversos políticos, como Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Edson Santos, Benedita da Silva e Tarso Genro, Lula lançou o Territórios da Paz, além de anunciar diversas outras obras de melhorias para a região.

    Semanas depois, no dia 17 de dezembro, o local foi palco de uma ação social com a presença de uma equipe da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, além de médicos e enfermeiros, animadores infantis e recreadores, pois, a cerca de trezentos metros dali, fora implodida a antiga fábrica de lingerie Poesi. Os moradores foram retirados de suas casas para evitar feridos caso alguma casa fosse atingida por resquícios da implosão. Houve algumas reclamações de truculência por parte da polícia quando esta foi retirar os últimos moradores que ainda não tinham deixado suas moradias.

Por volta de uma hora e meia da tarde, o governador Sérgio Cabral, do alto de uma antiga pedreira próxima, onde passaria uma linha do teleférico, acionou o botão que implodiu cinco dos nove galpões da antiga fábrica, onde seria instalado um centro social. Os outros galpões seriam reaproveitados pelas novas construções.

    Em 25 de novembro de 2010, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, com apoio da Marinha do Brasil e do Exército Brasileiro, fez uma operação especial para tomar o controle da Vila Cruzeiro. Os traficantes fugiram para o Complexo do Alemão e, no dia 26 de Novembro, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a Polícia Federal, a Polícia Civil e as Forças Armadas se posicionaram nos arredores do Complexo do Alemão, buscando tirar o controle do tráfico nesta região, como foi feito na Vila Cruzeiro no dia anterior. Houve intensa troca de tiros entre traficantes e policiais militares no início da noite do dia 26. Duas pessoas ficaram feridas, incluindo o fotógrafo da agência de notícias Reuters, Paulo Whitaker, baleado no ombro e um motorista da imprensa, que se escondia em um bar e foi atingido por estilhaços. Mais cedo, o traficante Anderson Roberto da Silva Oliveira, o Dande, foi preso por policiais da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos. Até aquela tarde, 36 pessoas já tinham sido mortas durante a onda de violência no Rio.

    A polícia apreendeu mais de trezentas motos na Favela do Cruzeiro, onde também foram encontradas munições e cerca de duas toneladas de maconha, além de cocaína e crack. O Complexo do Alemão ainda era o refúgio dos grandes traficantes de favelas vizinhas, tomadas pelas unidades de polícia pacificadora. Os traficantes, diante da perda de território, passaram a cometer atos terroristas pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro, gerando desordem e pânico na população.

    Em 28 de novembro de 2010, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (PMERJ) e as Forças Armadas do Brasil fizeram uma operação para a retomada do Complexo do Alemão. Os traficantes fugiram pela mata, devido a sua topografia desigual. Nesta operação, o Batalhão de Operações Policiais Especiais apreendeu cerca de quarenta toneladas de maconha, cocaína, crack e armas de grosso calibre. Seria efetuado o balanço final somente no final da operação.

    No dia 27 de novembro, ao final da tarde, cerca de 31 traficantes se renderam à polícia. O Complexo do Alemão foi, então, controlado pela polícia com apoio das Forças Armadas. A comunidade passou a ser atendida por 8 unidades de polícia pacificadora: 20ª UPP Fazendinha, 21° UPP Nova Brasília, 22ª UPP Morro do Adeus/ Morro da Baiana, 23ª UPP Morro do Alemão / Pedra do Sapo, 24ª UPP Morro do Sereno / Morro da Fé, 25ª UPP Morro da Chatuba / Morro da Caixa D'água, 26° UPP Parque Proletário e 27ª UPP Vila Cruzeiro. A comunidade possui, atualmente, 20 câmeras de vigilância para ajudar os policiais a manter a segurança na comunidade. Baseado em fatos reais que ocorreram nessa operação, foi escrito o livro A retomada do complexo do alemão escrito por Rogério Greco, André Monteiro e Eduardo Maia Betini.

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