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MARÉ
O Complexo da Maré, ou simplesmente Maré, assim denominado pela prefeitura do Rio de Janeiro, é um bairro com conglomerado de pequenos bairros da Zona Norte da capital fluminense. Teve seu território delimitado pelo Decreto nº 7.980, de 12 de agosto de 1988. A Lei nº 2.119, de 19 de janeiro de 1994, incluiu-o na XXXª Região Administrativa (Região Administrativa da Maré). Constitui-se num agrupamento de várias favelas, sub-bairros com casas, e conjuntos habitacionais. Com cerca de 130.000 moradores (2006), possui um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, consequência dos baixos indicadores de desenvolvimento social que caracterizam a região.
O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no ano 2000 era de 0,722, o 123º colocado da cidade do Rio de Janeiro, melhor apenas do que o de Acari, do Parque Colúmbia, de Costa Barros e do Complexo do Alemão.
O complexo ocupa uma região à margem da Baía de Guanabara, caracterizada primitivamente por vegetação de manguezal. Ocupada desde o meado do século XX por palafitas, os manguezais, que sofriam os efeitos das marés, foram aos poucos sendo aterrados com entulhos (rejeitos de obras) doados pela população vizinha e eventualmente pelo poder público despejando lixo.
A faixa de terra litorânea conquistada do mar pela população do local congrega, aproximadamente, dezesseis microbairros, usualmente chamados de comunidades, que se espalham por 800 000 metros quadrados próximos à Avenida Brasil e à margem da baía. É cortado pela Via Expressa Presidente João Goulart e pela Avenida Governador Carlos Lacerda.
Há uma pequena confusão nas leis que deram origem ao Bairro Maré, a sua delimitação e a criação da XXXª Região Administrativa: * Criação da XXXª Região Administrativa: Decreto nº 6.011, Art. 2º de 04/08/1986; * Delimitação do bairro Maré: Decreto nº 7.980, de 12 de agosto de 1988; * Criação do Bairro Maré: Lei Municipal nº 2119 de 19/01/1994.
1940: Comunidade Morro do Timbau
Orosina Vieira, considerada a primeira moradora da região.
Localiza-se no Morro do Timbau (do tupi thybau: "entre as águas"), originalmente uma área seca entre os manguezais e alagadiços às margens da Baía de Guanabara. Iniciou-se com a chegada de Orosina Vieira, considerada tradicionalmente como sua primeira moradora. De acordo com o próprio depoimento, ela encantou-se pelo lugar aprazível e desocupado, durante um passeio dominical pela praia de Inhaúma. Com pedaços de madeira trazidos pela maré, demarcou uma área no morro, para ali construir, com o marido, um pequeno barraco: a primeira habitação do Timbau.
Com a abertura da Avenida Brasil, em meados da década de 1940, a ocupação tomou impulso.
Com a instalação, nas proximidades, do 1º Batalhão de Carros de Combate - 1º BCC - Atual CPOR do Exército Brasileiro, em 1947, os militares passaram a controlar sistematicamente todo o Morro do Timbau, de propriedade da União. O acesso dos moradores era vigiado, sendo-lhes cobrada uma espécie de "taxa de ocupação". A arquitetura das habitações também era controlada, sendo vedada a construção de qualquer estrutura permanente na área (paredes de alvenaria, cobertura de telhas), sob pena de demolição. Obras que pudessem trazer melhorias nos serviços básicos também eram reprimidas.
Esse controle conduziu à organização da população que, em 1954, fundou uma das primeiras associações de moradores de favela do Rio de Janeiro. Aos poucos, a organização comunitária começou a render frutos, tais como a distribuição de água, eletricidade, esgoto, pavimentação e coleta de lixo. Finalmente, com o Projeto Rio, um projeto federal de urbanização de toda a região, responsável pela maioria dos aterros e pela retirada das palafitas em 1982, alcançou-se a propriedade da terra.
Favela típica de encosta, apresenta malha urbana de traçado irregular, labiríntica, com vários becos sem saída, onde grande parte das ruas acompanha as curvas de nível do terreno. Caracteriza-se por baixa densidade habitacional, consequência do rigoroso controle exercido pelos militares quando da ocupação inicial da área. Atualmente, conta com cerca de 2.700 domicílios e uma população estimada de 6.000 pessoas.
1947: Baixa do Sapateiro
Ao contrário da comunidade do Morro do Timbau, cuja ocupação ocorreu em uma área elevada, com alguma organização, a da Baixa do Sapateiro, que lhe é adjacente, desenvolveu-se em uma área de baixada, alagadiça, sem maiores cuidados na organização.
Formada por volta de 1947 a partir de um pequeno grupo de palafitas de madeira e originalmente conhecida como "Favelinha do Mangue de Bonsucesso", existem três versões para a origem do atual nome da comunidade:
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haveria realmente um sapateiro na ocupação inicial da área;
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seria uma alusão à Baixa dos Sapateiros em Salvador, na Bahia, uma vez que, na origem, a comunidade era integrada por vários migrantes nordestinos;
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seria uma referência à vegetação de manguezal, onde predominava a espécie "Rhizophora mangle" (mangue-vermelho), denominada popularmente como sapateiro. Essa espécie era extraída para a produção de tamancos, um calçado popular entre a comunidade de origem portuguesa no Rio de Janeiro.
Iniciada a partir das obras para a abertura da Avenida Brasil, a comunidade tomou impulso com a construção do primeiro grande aterro, promovido dentro do projeto de construção da Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão. Com a construção da Ponte Osvaldo Cruz, a região tornou-se trânsito obrigatório para quem ia e vinha da Ilha do Fundão. Por essa razão, moradores expulsos das ilhas aterradas e operários da construção iam erguendo os barracos à noite, com sobras de materiais de construção (madeira e latas), sobre palafitas de cerca de dois metros de altura.
A repressão à nascente comunidade era promovida pela Guarda Municipal que, utilizando-se de cabos de aço, puxados por tratores, cortava os esteios das palafitas, demolindo-as. Procurando organizar a luta e conquistar o direito de moradia, fundou-se a Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, em 1957.
As palafitas desapareceram gradualmente graças a aterros promovidos pelos próprios moradores ao longo dos anos. As últimas foram demolidas na década de 1980, por iniciativa do Projeto Rio, do Governo Federal, sendo esses moradores transferidos para os novos conjuntos então construídos: a Vila do João e, mais tarde, a Vila do Pinheiro.
Atualmente, a comunidade conta com cerca de 4.000 domicílios, com uma população estimada de 15.000 pessoas.
1948: Conjunto Marcílio Dias
Formada na antiga Praia das Moreninhas, entre os terrenos da Casa do Marinheiro e da fábrica da Kelson, a partir de 1948 por oito famílias de pescadores que ali ergueram palafitas. O seu nome é uma homenagem a Marcílio Dias.
Atualmente, conta com cerca de 2.300 domicílios, uma população estimada de 12.000 pessoas e um comércio de pequeno porte. Dentro desta comunidade, insere-se outra menor, denominada "Mandacaru", que conta com 554 famílias cadastradas, convivendo atualmente com a ameaça de remoção por parte do poder público.
1953: Comunidade Parque Maré
Originalmente uma extensão da Baixa do Sapateiro, distinguia-se por sua proximidade da Avenida Brasil, apresentando, por essa razão, uma densidade demográfica mais elevada. As primeiras palafitas e barracos foram erguidos a partir do início da década de 1950. Os moradores pediam aos caminhões de entulho que transitavam pela Avenida Brasil, que despejassem a sua carga na área, promovendo desse modo o aterro coletivo da mesma.
O Parque Maré conheceu uma grande expansão na década de 1960, quando foi criada a sua associação de moradores, para lutar pela permanência da comunidade, consolidando-se após a atuação do Projeto Rio, do Governo Federal, nas décadas de 1980 e 1990, que demoliu as últimas palafitas.
A comunidade conta, atualmente, com cerca de 4.000 domicílios, habitados por uma população estimada de 30.000 pessoas, com relativa infraestrutura como ruas e calçadas. Apesar das melhorias, é uma das comunidades mais marcadas pela violência no bairro.
1955: Parque Roquete Pinto
Surgiu através de uma série de aterros realizados pelos próprios moradores, a partir de 1955, às custas do manguezal. O processo de urbanização deu lugar a domicílios de alvenaria. O seu nome deve-se à existência de uma base e torre de transmissão da Rádio Roquette-Pinto. Os transmissores da estação foram furtados em 1995, deixando a estação de rádio fora do ar daquela data até julho de 2002.
1961: Comunidade Parque Rubens Vaz
Formou-se a partir de 1951, quando a areia oriunda da dragagem do canal da Zona Portuária ainda causava problemas aos moradores. O seu nome é uma homenagem ao major Rubens Florentino Vaz.
Atualmente, conta com cerca de 1.200 domicílios e com uma população estimada em 15.000 pessoas. Possui comércio variado, terminal de ônibus, posto de saúde municipal e um Centro Integrado de Educação Pública.
1961: Parque União
Formou-se a partir de um loteamento promovido por um advogado, cujo projeto era o de criar um bairro popular, com boa infraestrutura urbana. Outras fontes referem que a comunidade é fruto de uma das primeiras invasões urbanas planejadas de que se tem notícia, em fins da década de 1950.
Atualmente, conta com uma população estimada em 30.000 habitantes, comércio de pequeno e médio porte, diversas creches e um Centro Integrado de Educação Pública. É a área mais desenvolvida da região.
1962: Nova Holanda
Planejada e construída pelo poder público na década de 1960, sob o governo de Carlos Lacerda, sobre um aterro realizado ao lado do Parque Maré. O grande porte desse aterro influenciou a escolha do nome do empreendimento - Nova Holanda - uma vez que aquela região europeia foi formada, em grande parte, por aterros.
Não se constituía, entretanto, em um conjunto habitacional, uma vez que foi concebido como um centro de habitação provisório. O seu projeto era regular, disposto sobre uma malha ortogonal, com casas em série, idênticas, erguidas em madeira, em duas tipologias:
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Unidades individuais, simples; e
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Unidades duplas, em dois pavimentos (denominadas como modelo "vagão" ou "dúplex").
Essa característica não permitia, originalmente, que fossem realizadas benfeitorias pelos moradores, registrando-se, em pouco tempo, a rápida degradação das unidades. Os seus primeiros moradores chegaram em 1962, oriundos da remoção da Favela do Esqueleto (atual campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), da remoção da Praia do Pinto, da remoção do Morro da Formiga, da remoção do Morro do Querosene e das margens do Rio Faria-timbó, sob a coordenação da Fundação Leão XIII, que controlava tanto o processo de remoção quanto o gerenciamento dos centros de habitação provisória.
Os alojamentos deveriam servir como uma etapa intermediária no assentamento definitivo dessas populações em Conjuntos Habitacionais na periferia da cidade. Entretanto, por falta de continuidade política do projeto, em casas provisórias de madeira, acabaram por se tornar definitivas, registrando-se a favelização do conjunto na medida em que cada morador introduziu modificações arquitetônicas conforme as próprias necessidades e a seu próprio critério. A falta de serviços básicos, os conflitos que foram surgindo e o rígido controle da Fundação Leão XIII levaram ao estabelecimento da associação de moradores na década de 1980.
Com a atuação do Projeto Rio, do Governo Federal, o conjunto se consolidou como uma das maiores aglomerações de baixa renda da cidade.
1962: Praia de Ramos
Originalmente uma comunidade de pescadores estabelecida por volta de 1962 na antiga Praia de Maria Angú, vizinha ao terreno do quartel do 24° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro. Atualmente, conta com cerca de mil domicílios e com uma população estimada em quase 4.000 pessoas. A comunidade dispõe de um comércio de pequeno porte, um posto policial, dois postos de saúde municipais, duas escolas e uma unidade da Fundação Leão XIII, além do Piscinão de Ramos e do Parque Ambiental Carlos Roberto de Oliveira Dicró
1982: Conjunto Esperança
Conjunto habitacional erguido em 1982 pelo Projeto Rio, do Governo Federal, com 35 edifícios totalizando 1.400 apartamentos. Recebeu, à época, cerca de 7.000 pessoas, abrigando, atualmente, uma população estimada em mais de 8.000 pessoas.
1982: Vila do João
Conjunto habitacional erguido pelo Projeto Rio, do Governo Federal,em década de 1982, com 1.500 domicílios, destinados a abrigar as pessoas que viviam em palafitas na Baixa do Sapateiro. O seu nome é uma homenagem ao então presidente da república, João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985).
Atualmente, conta com cerca de 4.000 domicílios e uma população estimada em quase 12.000 pessoas.
1984: Vila do Pinheiro
A área denominada genericamente como "Pinheiro" é fruto de um aterro promovido à época do Projeto Rio na década de 1980, que ligou a antiga Ilha do Pinheiro ao continente. Esse aterro destinava-se a assentar os antigos moradores das palafitas removidas da Baixa do Sapateiro e do Parque Maré.
Aqui, foram erguidos dois grandes conjuntos habitacionais, com tipologias arquitetônicas distintas:
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A Vila do Pinheiro conta com 2.300 domicílios e uma população estimada em quase 16.000 pessoas.
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O Conjunto Pinheiros, erguido em 1984 pelo Projeto Rio, é constituído por grandes blocos de prédios multifamiliares.
Posteriormente, a estes dois conjuntos habitacionais, somou-se o vizinho Conjunto Novo Pinheiro (popularmente designado como "Salsa e Merengue").
1992: Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Foi erguido em frente ao Conjunto Pinheiro na década de 1990. No início, foi popularmente apelidado de "Fogo Cruzado", uma vez que se encontrava na linha de tiro entre facções criminosas rivais que disputam o controle do crime no bairro.
Inaugurado em 1992, o seu projeto é de inspiração pós-modernista, utilizando o tijolo e o concreto aparentes, o que lhe dá uma estética própria. Esse modelo seria repetido no Conjunto Nova Maré.
Os seus moradores vieram de outras favelas, consideradas de risco pelos técnicos da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro através do Programa Morar sem Risco e que não podiam ser urbanizadas pelo Programa Favela-Bairro, implantado a partir de 1994.
Atualmente, conta com cerca de 600 domicílios e com uma população estimada em 3.000 pessoas.
1996: Nova Maré
Conjunto habitacional inaugurado pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro em 1995 com o fim de assentar moradores removidos de palafitas no Parque Roquete Pinto e na comunidade conhecida como "Kinder Ovo". Em área de aterro vizinha à Baixa do Sapateiro, decorrente da construção da Via Expressa Presidente João Goulart, o seu projeto segue as linhas do Conjunto Bento Ribeiro Dantas. Atualmente, conta com mais de 600 domicílios. É aqui que se encontra o "Projeto Uerê", que atende a crianças e adolescentes.
2000: Conjunto Novo Pinheiro (Salsa e Merengue)
Conjunto habitacional inaugurado no ano 2000 pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro com o nome oficial de Novo Pinheiro. Embora tenha história e características próprias, não contava ainda com uma associação de moradores, sendo incluído tradicionalmente no Conjunto Vila do Pinheiro. O seu nome popular é uma alusão à novela televisiva Salsa e Merengue, devido ao colorido das casas.
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